O resultado degenerado da heresia contra o dogma da Salvação

A heresia de que a «ignorância invencível» salva os que morrem como não-católicos, e que os não-católicos podem ser salvos mediante «baptismo de desejo» frequentemente resulta com rapidez em apostasia do próprio Cristo. O famoso padre irlandês, Pe. Denis Fahey, é um caso ilustrativo.

Pe. Denis Fahey, O Reino de Cristo e a Conversão da Nação Judaica, pág. 52: «Os judeus, como uma nação, têm como objectivo dar à sociedade um rumo que está em completa oposição à ordem que Deus quer. É possível que um membro da nação judaica, que rejeita Nosso Senhor, possua a vida sobrenatural que Deus deseja ver em todas as almas, e portanto ser bom com a bondade desejada por Deus, mas objectivamente, a direcção que ele busca dar ao mundo é oposta a Deus e a essa vida, e portanto não é boa. Se um judeu que rejeita Nosso Senhor é virtuoso tal como Deus exige, isto sucede-se apesar do movimento em que ele e a sua nação estão envolvidos.»

Aqui vemos que o famoso padre irlandês Denis Fahey, cujos escritos são louvados por muitos dos que se chamam a si mesmos de «católicos tradicionais», a ensinar que judeus que rejeitam Nosso Senhor Jesus Cristo podem possuir «a vida sobrenatural que Deus deseja ver em todas as almas» (isto é, o estado de graça) e que, portanto, podem ser salvos. Isto é verdadeiramente uma abominação. Repare como a afirmação do Pe. Fahey contradiz directamente a palavra de Deus.

1 João 5:11-12 — «E esse testemunho é que Deus deu-nos a vida eterna e que esta vida está em seu Filho. Aquele que tem o filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus, não tem a vida.»

A palavra de Deus diz-nos que aquele que não tem o Filho não tem a vida. O Pe. Denis Fahey diz-nos que um judeu que rejeita o Filho tem a vida: «É possível que um membro da nação judaica, que rejeita Nosso Senhor, possua a vida sobrenatural…» Ao fazer tal afirmação, o Pe. Fahey revela (infelizmente) que ele não era católico, mas um herege audaz. Talvez se o Pe. Fahey tivesse passado mais tempo familiarizar-se com a verdade de Jesus Cristo, do Seu Evangelho, dos Seus dogmas, ao invés de escrever extensos volumes sobre «as forças do naturalismo organizado», ele teria descoberto que o foco central do Evangelho como um todo — a verdade central do universo em si, juntamente com o dogma da Trindade — é que Jesus Cristo é o Filho de Deus, e que é necessário crer n’Ele para possuir a vida eterna.

«Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho unigénito, para que todo o que crê nele não pereça, mas tenha a vida eterna.» (João 3:16)

«O que crê no Filho, tem a vida eterna; o que, porém, não crê no Filho, não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.» (João 3:36)

Afirmar que pode-se obter salvação enquanto se rejeita Jesus Cristo é dizer que pode-se obter salvação enquanto se rejeita a própria salvação. É uma das piores heresias que se poderia dizer.

«Ora a vida eterna é esta: Que te conheçam a ti como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.» (João 17:3)

«Ele disse-lhes: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso eu vos disse que morreríeis nos vossos pecados; sim, se não crerdes em quem eu sou, morrereis no vosso pecado.”» (João 8:23-24)

«Em verdade, em verdade, vos digo que quem não entra pela porta do aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador… Eu sou a porta.» (João 10:1, 9)

«Jesus disse-lhe: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim.”» (João 14:6)

«Ele [o Paráclito], quando vier, convencerá o mundo, quanto ao pecado, à justiça e ao juízo. Quanto ao pecado, porque não creram em mim.» (João 16:8-9)

«Nasci ao mundo para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade, ouve a minha voz.» (João 15:8-9)

Papa Eugénio IV, Concílio de Florença, credo dogmático Atanasiano, 22 de Nov., 1439, ex cathedra: «Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade. - Mas a fé católica é esta, que adoramos um Deus na Trindade, e a Trindade na unidade… Portanto, que assim pense sobre a Trindade quem quiser salvar-se.

«Mas é necessário para a eterna salvação crer também fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo… o Filho de Deus é Deus e homem… - Isto é a fé católica; ao menos que cada um nela creia fiel e firmemente, não pode ser salvo.»

Mas o Pe. Fahey embebeu-se da heresia de que os que morrem não-católicos podem ser salvos, a qual tornou-se disseminada nos finais do século XIX, como demonstrei. Ele já tinha acatado a heresia de que Fora da Igreja Não Há Salvação na verdade não significa que fora da Igreja não haja salvação. Ao rejeitar o verdadeiro significado do dogma, e ao sustentar que não católicos podem ser salvos, em pouco tempo o Pe. Fahey concluiu (como o fez acima) que podem ser salvas pessoas de qualquer religião —inclusive judeus que rejeitam o próprio Salvador. Isto demonstra que aqueles que vêm este dogma e crêem que um só pagão, budista, muçulmano, etc. que seja pode ser salvo sem conversão a Cristo, de facto sustenta que um não-católico pode se salvo em qualquer religião que seja, coisa que a seguinte afirmação de Lefebvre confirma.

Arcebispo Lefebvre, Contra as Heresias, pág. 216: «Como é evidente, certas distinções precisam ser feitas. Almas podem ser salvas numa outra religião que não a religião católica (protestantismo, islão, budismo, etc.), mas não por esta religião. Pode haver almas que, sem conhecer Nosso Senhor, tenham, por graça do bom Senhor, boas disposições interiores, que submetem-se a Deus… Mas algumas destas pessoas fazem um acto de amor que é implicitamente equivalente a baptismo de desejo. É exclusivamente por esse meio que elas se podem salvar.»1

Repare no «etc.». A palavra «etc.» significa «e o resto, e por aí a fora»! O Bispo Lefebvre está a dizer que há muitas outras religiões nas quais as pessoas podem ser salvas. Isto é completa e total heresia. O Bispo Lefebvre cria que os homens podem ser salvos enquanto cultuam falsos deuses e vários deuses (budismo, hinduísmo). Contudo, isto, simplesmente ilustra que todos os que crêem que há possibilidade de salvação para membros de religiões não-cristãs sem os mistérios principais da fé católica (a Trindade e a Encarnação) estão a admitir que uma alma pode ser salva em qualquer religião que seja: Islão, budismo, etc. Isso demonstra como aqueles que rejeitam o verdadeiro significado de Fora da Igreja Não Há Salvação e a necessidade da fé em Cristo e na Trindade rejeitam a fé por completo e de facto não têm fé.

Papa Leão XIII, Satis Cognitum, nº. 9, 29 de Junho de 1896: «… poderá ser licito a alguém rejeitar uma dessas verdades sem, por esse mesmo facto, precipitar-se claramente em heresia? – sem separar-se da Igreja? – sem repudiar em conjunto toda a doutrina cristã? Pois tal é a natureza da fé, que nada é mais absurdo do que crer em algumas coisas e rejeitar outras. (…) Pelo contrário, quem num só ponto diverge das verdades divinamente reveladas, abdica de forma absoluta de toda a fé, pois recusa submeter-se a Deus como soberana verdade e motivo formal da fé.»2

O Pe. Fahey e o Bispo Lefebvre não podiam dizer que uma pessoa que morre satanista definitivamente perde-se. Eles sustentavam claramente que é possível para qualquer outra pessoa (inclusive judeus que rejeitam o próprio Salvador) ser salva sem a fé católica e em falsas religiões. Se judeus, budistas, hindús e muçulmanos podem se salvos nas suas falsas religiões e sem a fé católica — como eles dizem — então, segundo eles, um também um satanista poderia ser salvo sem a fé católica, e na sua falsa religião; eles teriam de admitir que nós simplesmente não sabemos, posto que ele também poderia estar de boa fé.

Logo, ao sustentar que a salvação é possível para os que morrem como membros de religiões não-católicas, o Pe. Fahey, o Bispo Lefebvre e qualquer outra pessoa que se apegue a essa heresia crê que a salvação é possível em qualquer religião e em todas elas.

Papa Pio IX, Qui Pluribus, nº15, 9 de Novembro de 1846:

«Tal é o sistema perverso e oposto à luz natural da razão que propõe a indiferença em matéria de religião. Por meio deste sistema, esses homens astutos procuram eliminar toda a distinção entre o vício e a virtude, entre a verdade e o erro, entre a honra e a ignomínia. Eles alegam que os homens podem alcançar a salvação eterna por meio de qualquer religião, como se fosse possível haver acordo entre a justiça e a iniquidade, colaboração entre a luz e as trevas, ou consórcio entre Jesus Cristo e Belial.»3

Papa Pio IX, Sílabo de Erros Modernos – Proposição 16, 8 de Dezembro de 1854: «O homem pode, na observância de qualquer religião que seja, encontrar o caminho da salvação eterna, e alcançar a salvação eterna.»4 - Condenada

Bispo Lefebvre, Discurso em Rennes, França: «Se homens são salvos no protestantismo, budismo, ou no Islão, são salvos pela Igreja Católica, pela graça de Nosso Senhor, pelas orações dos que pertencem à Igreja, pelo sangue de Nosso Senhor como indivíduos, e talvez mediante a prática das suas religiões, talvez por o que eles entendem em suas religiões, mas não pelas suas religiões…»5

Isto deveria ser uma mensagem para aqueles que dizem esta é uma questão meramente «académica». Esta questão não é meramente «académica»; influencia a vida espiritual das pessoas de inúmeras maneiras. A negação deste dogma corrompe a fé da pessoa até ao seu âmago, e perverte totalmente a crença da pessoa no próprio Jesus Cristo como salvador do mundo. Esta questão corrompe integralmente o modo como a pessoa percepciona o mundo espiritual.

Actos 4:10-12- «…em nome de Jesus Cristo Nazareno… Não há salvação em nenhum outro, porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos.»

Pelos seus frutos os conhecerei — os frutos do baptismo de desejo

Cá no Mosteiro da Sagrada Família, nós já conversámos pessoalmente com centenas de pessoas sobre a questão do baptismo de desejo e de Fora da Igreja Católica Não Há Salvação e temos sido contactados por milhares. Das muitas milhares de pessoas com as quais conversámos sobre baptismo de desejo, posso dizer com honestidade que aproximadamente de 5 a 10 afirmaram que este só se aplica aos que desejam o baptismo de água (catecúmenos). O restante (quase 100%) crê que «baptismo de desejo» salva judeus, budistas, hindús, muçulmanos, pagãos, e até não católicos que rejeitam Cristo. Por que motivo basicamente todas as pessoas que crêem em baptismo de desejo rejeitam o ensinamento da Igreja Católica (Papa Eugénio IV, Concílio de Florença, de fide) de que todos os que morrem não-católicos não são salvos?

E das aproximadamente 5 a 10 que me recordo crerem em baptismo de desejo somente para catecúmenos, basicamente todas essas foram forçadas a admitir que os catecúmenos estão «fora da Igreja». Portanto, mesmo as tais 5 a 10 pessoas estavam a sustentar uma posição de que há salvação «fora» da Igreja ou que há salvação para pessoas que não estão no «seio e na unidade» da Igreja, o que é herético. Isto demonstra que qualquer pessoa de boa vontade, fiel ao ensinamento dogmático católico, verá que a Igreja Católica não ensina de modo algum baptismo de desejo quando todos os factos lhe são apresentados.

De facto, uma pessoa que frequenta a Sociedade de São Pio X recentemente ligou para nós e disse-me que a sua avó metodista foi salva por «baptismo de desejo». Eu disse ao homem que mesmo que baptismo de desejo fosse verdadeiro (que não é) não salvaria metodistas (heréticos) que já são baptizados. Mas ele não concordou, e até combateu com maior vigor em favor da heresia. Ele prosseguiu dizendo-me que eu estava em heresia por asseverar que não há salvação fora da Igreja! A posição herética deste homem simplesmente reflete a posição comum de muitos «tradicionalistas» heréticos que frequentam missas latinas por todo o mundo, assim como basicamente qualquer membro da Novus Ordo.

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Notas finais:

1 Arcebispo Marcel Lefebvre, Against the Heresies, Angelus Press, 1997, pág. 216.

2 The Papal Encyclicals, por Claudia Carlen, Raleigh: The Pierian Press, 1990, Vol. 2 (1878‐1903), pág. 394.

3 The Papal Encyclicals, Vol. 1 (1740-1878), pág. 280.

4 Denzinger, The Sources of Catholic Dogma, B. HerderBook. Co., Thirtieth Edition, 1957, n.º1716

5 Citado em Ir. Robert Mary, . Feeney and the Truth About Salvation, pág. 213.