Outro papas e santos contra a Ignorância Invencível

Papas contra a Ignorância Invencível

Os defensores da ideia de salvação para os «ignorantes invencíveis» podem sentir-se incomodados ao descobrirem que dois outros papas, Papa Bento XIV e Papa São Pio X, reiteraram explicitamente o dogma da Igreja de que existem certos mistérios da fé acerca dos quais ninguém que queira salvar-se pode estar em ignorância. Estes mistérios são os mistérios da Trindade e da Encarnação, e foram definidos no Credo Atanasiano.

Papa Bento XIV, Cum religiosi, # 4: «Cuide que cada ministro aplique cuidadosamente as medidas estabelecidas pelo santo Concílio de Trento (…) que os confessores devem cumprir esta parte do seu dever quando alguém se encontra ante o seu tribunal e não saiba o que deve saber por necessidade de meios para salvar-se…»1

Papa São Pio X, Acerbo nimis, # 2, 15 de Abril de 1905: «E por isso o Nosso predecessor Bento XIV escreveu justamente: “Declaramos que um grande número dos condenados às penas eternas sofrem aquela perpétua desgraça por ignorarem os mistérios da fé, que necessariamente devem saber e crer de modo a serem contados entre os eleitos.”»2

Todos acima da idade da razão têm de ter um conhecimento positivo destes mistérios da fé para se salvarem. Não há excepções. E esta verdade da fé católica explica o porquê de inúmeros papas e santos terem ensinado que cada membro daquela multitude humana que vive na ignorância de Cristo está sob o domínio do Demónio e não será salvo, a não ser que seja incorporado na maravilhosa luz de Cristo mediante a fé e o Baptismo.

Papa Gregório XVI, Probe nostis, # 6, 18 de Setembro de 1840: «Estamos gratos pelo êxito das missões apostólicas nas Américas, nas Índias e em outras terras de infiéis… Eles vão ao socorro dos que vagueiam nas trevas e na sombra da morte para chamá-los à luz e à vida da religião católica… por fim, arrebatando-os do domínio do Demónio, pelo lavacro da regeneração e elevando-os à liberdade dos filhos adoptivos de Deus.»3

Na sua bula Sublimus Dei, o Papa Paulo III aborda a questão dos índios no «recém-descoberto» Novo Mundo. Falando no contexto daqueles acima da idade da razão, o Papa Paulo III declara que esses são capazes de receber a fé, e reitera o ensino da Tradição de que nenhum deles pode salvar-se sem a fé em Jesus Cristo.

Papa Paulo III, Sublimus Dei, 29 de Maio de 1537: «O Deus sublime tanto amou a raça humana que Ele criou o homem de modo tal que esse pudesse participar, não somente do bem que gozam as outras criaturas, mas dotou-o da capacidade de alcançar o Deus supremo, invisível e inacessível, e de contemplar o Seu rosto directamente; e uma vez que o homem, de acordo com o testemunho das Sagradas Escrituras, foi criado para gozar da felicidade da vida eterna, que ninguém pode obter senão por meio da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, é necessário que possua a natureza e as capacidades para receber essa fé; e que, quem quer que esteja assim dotado, deva ser capaz de receber a mesma fé. Não é credível que exista alguém que possua o suficiente entendimento para desejar a fé, e esteja despojado da mais necessária faculdade para obtê-la. Por isso, Jesus Cristo, que é a Verdade mesma, que não pode enganar-Se nem enganar, quando enviou os pregadores da fé que escolheu para tal ofício, disse: “Ide pois e ensinai todas as gentes.” Ele disse todas, sem excepção, pois todas são capazes de ser instruídas na fé… Fazendo uso da Nossa autoridade apostólica, determinamos e declaramos pelas presentes letras… que os ditos índios, e todas as gentes devem ser convertidas à fé de Jesus Cristo através da pregação da palavra de Deus e pelo exemplo de uma santa e virtuosa vida…»4

Isto demonstra-nos, uma vez mais, que é contrário à fé católica afirmar que se podem salvar as almas ignorantes dos mistérios fundamentais da fé católica.

Santos contra a Ignorância Invencível

O grande «Apóstolo das Montanhas Rochosas,» o Pe. Pierre De Smet, que foi o extraordinário missionário para os índios norte-americanos no século XIX, também estava convencido — em harmonia com todos os grandes missionários católicos anteriores a ele — que todos os índios aos quais não conseguisse pregar e converter perder-se-iam eternamente.

Pe. De Smet, S.J., 26 de Janeiro de 1838: «Novos padres serão alistados para a missão Potawatomi, e o meu Superior, Padre Verhaegen dá-me esperança de que serei escolhido. Quão feliz seria se pudesse dedicar-me a salvação de tantas almas, que se perdem por nunca terem conhecido a verdade!»5

Pe. De Smet, S.J., 8 de Dezembro de 1841: «Dói-me o coração de pensar que tantas almas estão abandonadas à perdição por falta de padres que as possam instruir.»6

Pe. De Smet, S.J., 9 de Outubro de 1844: «Que emoção à vista deste vasto país, onde, por falta de missionários, milhares de homens nascem, tornam-se adultos e morrem nas trevas da infidelidade! Mas agora, através de nossos esforços, a grande maioria, se não todos, conhecerão a verdade.»7

Esta verdade sobre a salvação é a razão de São Luís De Monfort dizer o seguinte na sua grande obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria (a qual recomendamos fortemente a todos):

São Luís de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, # 61: «Não foi dado outro nome debaixo dos Céus pelo qual possamos ser salvos a não ser o de Jesus… Todo o fiel que não estiver unido a Jesus, como o sarmento à cepa da vinha, cairá, secará, e só servirá para ser lançado ao fogo (Jo. 15:6). Fora de Jesus Cristo nada existe senão erro, mentira, iniquidade, futilidade, morte e condenação.»8

Esta verdade sobre a salvação é o porquê de o Papa Gregório Magno ter respondido da seguinte forma após ter visto alguns jovens da Bretanha pagã num mercado de escravos:

(+ séc. VI): «A Grã-Bretanha que Gregório conheceu era completamente ignorante de Cristo. Um dia… Gregório avistou num mercado de escravos um grupo de formosos jovens de cabelo ruivo do norte, e questionou-se sobre quem poderiam ser. “Anglos,” disseram-lhe, da Grã-Bretanha. “Não Anglos, mas Anjos,” respondeu Gregório, exclamando o quão triste era que “seres com faces tão claras poderiam ser escravos do príncipe das trevas” quando eles “deveriam de ser co-herdeiros com os anjos do Céu.” E formou o propósito: “Serão salvos da ira de Deus, e chamados à misericórdia de Cristo.”»9

O Papa São Gregório Magno cria claramente que os anglos não estavam em condições de salvar-se, apesar de serem ignorantes do Evangelho. Eram, como ele disse, escravos do príncipe das trevas uma vez que se encontravam fora do reino sobrenatural de Cristo (a Igreja Católica) e sob o domínio do Diabo por causa do pecado original. Portanto, resolveu enviar Santo Agostinho de Canterbury para evangelizá-los e salvá-los.

Esta verdade sobre a salvação é a razão pela qual São Francisco de Sales disse o seguinte na Controvérsia Católica:

São Francisco de Sales, A Controvérsia Católica (+1672): «Sim, é de facto; pois fora da Igreja não há salvação, fora desta todos se perdem.»10

São Francisco de Sales, A Controvérsia Católica (+1672): «… [que] o homem pode salvar-se fora da verdadeira Igreja, o que é impossível.»11

São Francisco de Sales, A Controvérsia Católica (+1672): «Quem pode desmerecer a glória de tantos religiosos de todas as ordens, e de tantos sacerdotes seculares, que, deixando seus países, expuseram-se à mercê do vento e da maré, para chegar às nações do Novo Mundo, a fim de conduzi-las à verdadeira fé, e para iluminá-las com a luz do Evangelho (…) entre os canibais, canários (…) brasileiros, malaios, japoneses, e outras nações estrangeiras, e fizeram-se lá prisioneiros, desterrando-se da sua própria terra natal para que esta pobre gente não seja desterrada do paraíso celestial.»12

Esta verdade sobre a salvação é o porquê de o Papa Leão XIII dizer que a descoberta da América por parte de Cristóvão Colombo, conduziu centenas de milhares de mortais à salvação que de outro modo ter-se-iam perdido ao morrerem num estado de ignorância da verdadeira fé.

Papa Leão XIII, Quarto Abeunte Saeculo, # 1 (+1902): «Por sua obra (de Cristóvão Colombo), um outro mundo emergiu das não ainda perscrutadas vastidões do oceano: centenas de milhares de mortais, que antes estavam em estado de cegueira, foram elevados ao comum nível da raça humana, resgatados da selvajaria à mansidão e humanidade; e, o mais importante de tudo, pela aquisição daquelas bênçãos das quais Jesus Cristo é o autor, foram chamados da destruição para a vida eterna.»13

É por causa desta verdade sobre a salvação que o Papa Pelágio I, representando o espírito e toda a Tradição da Igreja primitiva, declarou que todos aqueles que «não conheceram o caminho do Senhor» perderam-se.

Papa Pelágio I, Fide Pelagii a Childeberto, Abril de 557: «Com efeito, todos os homens desde Adão… confesso que irão ressuscitar e comparecer “ante o tribunal de Cristo” (Rom. 14:10), “para que cada um receba o que mereceu, enquanto estava no corpo, bem ou mal.” (2 Cor. 5:10) (…) Aos iníquos, no entanto, que por alvedrio de sua própria vontade permaneceram com “os vasos de ira, preparados para a perdição” (Rom. 9:22), que, ou não conheceram o caminho do Senhor, ou conhecendo-o, abandonaram-no cativos de diversas prevaricações, Ele os entregará por justíssimo juízo às penas do fogo eterno e inextinguível, para que ardam sem fim.»14

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Notas finais:

1The Papal Encyclicals, por Claudia Carlen, Raleigh: The Pierian Press, 1990 ,Vol. 1 (1740-1878), pág. 46.

2The Papal Encyclicals, Vol. 3 (1903-1939), pág. 30.

3The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 260.

4https://www.papalencyclicals.net

5Fr. E. Laveille, S.J., The Life of Fr. De Smet, Rockford, IL: Tan Books, 2000, pág. 80.

6Fr. E. Laveille, S.J., The Life of Fr. De Smet, pp. 139-140.

7Fr. E. Laveille, S.J., The Life of Fr. De Smet, pp. 139-140.

8São São Luís de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, # 61.

9Warren H. Carroll, A History of Christendom, Christendom Press, Vol. 2 (The Building of Christendom), pág. 197.

10São Francis De Sales, The Catholic Controversy, Tan Books, 1989, pág. 59.

11São Francis De Sales, The Catholic Controversy, pág. 74.

12São Francis De Sales, The Catholic Controversy, pág. 200.

13The Papal Encyclicals, Vol. 2 (1878-1903), pág. 285.

14Denzinger, The Sources of Catholic Dogma, B. Herder Book. Co., Thirtieth Edition, 1957, nº 228a.