Papa Inocêncio II ensinou baptismo de desejo? Não

RESPOSTA — Antes de tudo, isso não existe: um sacerdote que não foi baptizado. A Igreja ensina que uma pessoa que não foi baptizada não pode receber o sacerdócio validamente. Este problema por si só demonstra que a declaração acima citada não é infalível. Em segundo lugar, a data deste documento é desconhecida, o autor é desconhecido — não é de modo algum claro que este é proveniente de Inocêncio II — e a pessoa a qual este é dirigido é desconhecida. Poderia um documento desse género provar alguma coisa? Não. A razão pela qual um documento tão duvidoso foi incluído no Denzinger, que é um manual de declarações dogmáticas, permanece um mistério. A razão é provavelmente porque o Denzinger foi editado por Karl Rahner, um herege notório, cuja predisposição herética fê-lo apresentar esta declaração que claramente não é magisterial como se fosse magisterial, pois ele é um crente em baptismo de desejo.

Para ilustrar a falta de autoridade magisterial do carta anterior alegadamente do Papa Inocêncio II, apresentarei uma citação do livro Desire and Deception [Desejo e Engano], de Thomas Hutchinson, pp. 31-32:

«Falamos da carta Apostolicam Sedem, escrita a pedido do Papa Inocêncio II (1130-1143), numa data desconhecida e endereçada a um bispo anónimo de Cremona. Este escrevera um inquérito sobre o caso de um sacerdote que aparentemente morreu sem ser baptizado. Obviamente, foi definido que, em tal caso, ele não era verdadeiro sacerdote, posto que o sacramento da Ordem só pode ser conferido validamente a um indivíduo baptizado.

--- Texto da carta omitido por já ter sido citado ---

«Ora, há mais do que uns poucos problemas relacionados com esta carta. Primeiro, esta depende inteiramente do testemunho dos santos Ambrósio e Agostinho para a validez da sua conclusão. As premissas são falsas, na medida em que os padres em questão na verdade não sustentavam as opiniões que lhes é imputada na carta. (autor: como já foi notado, uma mera afirmação especulativa sentimental não prova que eles consideravam-no um ensinamento oficial)…

«Por último, há até uma dúvida sobre quem escreveu a carta. Muitas autoridades atribuem-na a Inocêncio III (1198-1216). Esta dúvida é mencionada no Denzinger. A carta, além disso, certamente não está em consonância com a totalidade das suas declarações. De qualquer modo, um intervalo de 55 anos separa os dois pontificados. Portanto, uma carta sem data, de autoria e destinatário incertos, baseada em falsas premissas e que contradiz inúmeros documentos cuja validez e solenidade não é objecto de disputa, propõe-se a suportar o peso do Magistério em seus ombros. Se estivesse em questão qualquer outra doutrina, nem sequer seria dedicada qualquer atenção à esta correspondência (carta). Como veremos, no entanto, mistificação e engano são parte integrante da história deste tópico da Salvação. Talvez esta carta foi atribuída a Inocêncio III por causa das suas declarações de que as palavras de consagração na Missa não precisam ser ditas pelo sacerdote, mas somente internamente — como que uma Eucaristia do Desejo. Posteriormente, São Tomás de Aquino reprimiu-o por este ponto.

«Mas Inocêncio III é de facto a chave para entender a origem do ensinamento da Igreja neste tópico. Foi no seu tempo (como sempre fora até o Segundo Concílio Plenário de Baltimore) proibido enterrar os não-baptizados (quer fossem catecúmenos ou até filhos de pais católicos) em terreno consagrado. Ele explicou a lógica por detrás desta lei, escrevendo: “Foi decretado pelos sagrados cânones que não devemos ter qualquer comunhão com os que estão mortos, se com eles não estivemos em comunhão enquanto vivos.” (Decr. III, XXVIII, xii).» — fim da transcrição de Desire and Deception.

Estas considerações descartam qualquer argumento a favor de baptismo de desejo que se baseie nesta carta. A carta, enquanto que certamente não é infalível, pode de facto ser uma fraude.