Orientalium Ecclesiarum – o decreto sobre as Igrejas Católicas Orientais

por Ir. Miguel Dimond e Ir. Pedro Dimond

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O decreto Orientalium Ecclesiarum do Vaticano II trata das Igrejas católicas orientais. Trata também das seitas cismáticas orientais: as assim-chamadas Igrejas “Ortodoxas.” Ao tratar das assim-chamadas Igrejas “Ortodoxas” no #27 deste decreto, o Vaticano II apresenta-nos uma de suas heresias mais significativas.

Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, #27: “De harmonia com estes princípios, podem ser conferidos aos Orientais que de boa fé se acham separados da Igreja católica, quando espontaneamente pedem e estão bem dispostos, os sacramentos da Penitência, Eucaristia e Unção dos enfermos.”1

Durante 20 séculos, a Igreja Católica ensinou consistentemente que hereges não podem receber os sacramentos. Este ensinamento é fundamentado no dogma definido pelo Papa Bonifácio VIII de que fora da Igreja Católica não há remissão dos pecados. Também tem suas raízes no dogma de que os sacramentos só beneficiam para a salvação aqueles que estão dentro da Igreja Católica, tal como foi definido pelo Papa Eugénio IV.

Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam, 18 de Novembro de 1302:

“Por imposição de fé, estamos obrigados a crer e manter que há uma só e santa Igreja Católica e Apostólica, e nós simples e firmemente cremos e confessamos esta Igreja, fora da qual não há salvação nem remissão dos pecados, o Esposo no Cântico proclamando: ‘Uma só é a minha pomba, a minha perfeita...’”2

Papa Eugénio IV, Concílio de Florença, Cantate Domino, 1441, ex cathedra:

“A Santa Igreja Romana crê firmemente, professa e prega que nenhum dos que estão fora da Igreja Católica, não só pagãos como também judeus, heréticos e cismáticos, poderá participar na vida eterna; mas que irão para o fogo eterno que foi preparado para o demónio e os seus anjos, a não ser que a Ela se unam antes de morrer; e que é tão importante a unicidade do corpo da Igreja que só aos que nela permanecem lhe aproveitam, para a salvação, os sacramentos da Igreja e [lhes] dão prémios eternos os jejuns, as esmolas e as demais obras de piedade e os exercícios do dever cristão. E que ninguém, por mais esmolas que dê, ainda que derrame seu sangue pelo Nome de Cristo, pode salvar-se se não permanecer no seio e na unidade da Igreja Católica.”3

Os sacramentos da Igreja só podem beneficiar para a salvação aqueles que permanecem na Igreja Católica. Isto é um dogma! No entanto, este dogma é repudiado pela doutrina indignante do Vaticano II que diz que é lícito dar a sagrada comunhão aos que não permanecem na Igreja Católica. Os papas ao longo dos tempos proclamaram que os não-católicos que recebem a sagrada Eucaristia fora da Igreja Católica recebem-na para a sua própria condenação.

Papa Pio VIII, Traditi humilitati, #4, 24 de Maio de 1829:

“Jerónimo costumava dizer isto deste modo: aquele que consome o cordeiro fora desta casa perecerá assim como aqueles que, durante o dilúvio, não estavam com Noé na arca.”4

Papa Gregório XVI, Commissum divinitus, #11, 17 de Maio de 1835:

“... quem quer que se atreva a sair da unidade de Pedro deve entender que deixará de partilhar do mistério divino. ‘Aquele, adverte São Jerónimo, que consome o cordeiro fora desta casa é profano...’”5

Papa Pio IX, Amantissimus, #3, 8 de Abril de 1862:

“… aquele que consome o cordeiro e não é membro da Igreja, profanou.”6

João Paulo II e Bento XVI repetiram e desenvolveram muitas vezes esta heresia do Vaticano II. No caso de João Paulo II, é ensinado claramente no seu novo Código de Direito Canónico (cânon 844.3-4), no seu Directório para a Aplicação dos Princípios e Normas sobre o Ecumenismo (nn. 122-125) e no seu novo catecismo (n. 1401). Ele também fez muitas referências a esta heresia em seus discursos.

João Paulo II, Audiência Geral, 9 de Agosto de 1995: “No que concerne aos aspectos da inter-comunhão, o recente Directório ecuménico confirma e especifica o que já havia afirmado o concílio, ou seja, que certa inter-comunhão é possível, visto que as Igrejas orientais têm verdadeiros sacramentos, sobretudo o sacerdócio e a Eucaristia.

”Foram dadas indicações específicas sobre esse ponto delicado, segundo as quais todo católico, sempre que lhe for impossível encontrar um sacerdote católico, pode receber de um ministro de uma Igreja oriental os sacramentos da Penitência, da Eucaristia e da Unção dos Enfermos (Directório, n. 123). Reciprocamente os ministros católicos podem licitamente administrar os sacramentos da Penitência, da Eucaristia e da Unção dos Enfermos aos cristãos orientais que os pedem.”

João Paulo II, Ut unum sint, #48, 25 de Maio de 1995: “... a praxe pastoral demonstra, com relação aos irmãos orientais, que se podem e devem considerar as várias circunstâncias das pessoas nas quais nem é lesada a unidade da Igreja, nem há perigos a evitar, mas urgem a necessidade da salvação e o bem espiritual das almas. Por isso, a Igreja Católica, consideradas as circunstâncias de tempos, lugares e pessoas, muitas vezes tem usado e usa de modos de agir mais suaves, a todos dando os meios de salvação e o testemunho de caridade entre os cristãos através da participação nos sacramentos e em outras funções e coisas sagradas... Nunca se há-de perder de vista a dimensão eclesiológica da participação nos sacramentos, sobretudo na santa Eucaristia.”7

Três coisas chamam a atenção neste parágrafo: 1) João Paulo II convida a compartilhar os sacramentos, especialmente a Sagrada Eucaristia; 2) ele tenta justificar isto invocando “o bem espiritual das almas,” o que significa que ele está a negar directamente a definição do Papa Eugénio IV, que disse que aqueles que recebem os sacramentos fora da Igreja não obtêm benefícios para a salvação; e 3) João Paulo II exorta-nos a nunca perdermos de vista a “dimensão eclesiológica” da participação nos sacramentos – o que implica que estes hereges e cismáticos com os quais eles partilham os sacramentos também são membros da mesma Igreja de Cristo! Por acaso o leitor entende o que esta heresia significa? Significa que a Igreja do Vaticano II, agora liderada por Bento XVI, considera-se estar na mesma Igreja de Cristo que aqueles aos quais ela dá a Sagrada Comunhão: os protestantes e cismáticos orientais!

Além do seu horrível ensinamento sobre a partilha dos sacramentos com não-católicos, o documento Orientalium Ecclesiarum do Vaticano II dissemina mais da heresia do indiferentismo: a ideia de que Deus aprova todas as seitas heréticas.

Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, #30:

“Peçam ainda que aflua a plenitude do conforto e da consolação do Espírito Paráclito a tantos cristãos de toda a Igreja que, confessando corajosamente o nome de Cristo, sofrem e se angustiam.”8

Contrariamente à esta heresia do Vaticano II, o Espírito Santo não aflui a membros de qualquer seita.

Papa Leão XII, Ubi Primum, #14, 5 de Maio de 1824:

“É impossível ao autêntico Deus, o qual é a própria Verdade, o melhor e mais sábio Provedor, e o Recompensador dos homens bons, aprovar todas as seitas que professam falsos ensinamentos que são frequentemente inconsistentes uns com os outros e contraditórios, e conferir recompensa eterna aos seus membros... Por fé divina nós professamos um Senhor, uma fé, um baptismo... É por isso que professamos que não há salvação fora da Igreja.”9

Papa São Celestino I, Concílio de Éfeso, 431:

“… lembrem-se que os seguidores de todas as heresias extraem da Escritura inspirada a razão de seus erros, e que todos os hereges corrompem as verdadeiras expressões do Espírito Santo com as suas próprias mentes iníquas e fazem cair sobre as suas cabeças uma chama inextinguível.”10

Finalmente, operando sob o princípio de que todas as seitas heréticas são tão boas quanto a Igreja Católica, e que o Espírito Santo aprova todas as seitas heréticas, Orientalium Ecclesiarum convida os católicos a partilharem as suas igrejas com hereges e cismáticos.

Vaticano II, Orientalium Ecclesiarum, #28:

“Supostos estes mesmos princípios, permite-se, igualmente por justa causa, a communicatio [comunicação] nas funções sagradas, coisas e lugares entre católicos e irmãos separados orientais.”11

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Notas finais:

1  Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 2, pág. 907; https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19641121_orientalium-ecclesiarum_po.html

2  Denzinger 468.

3  Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 1, pág. 578; Denzinger 714.

4  The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 222.

5  The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 256.

6  The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 364.

7  The Encyclicals of John Paul II, pág. 950; https://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25051995_ut-unum-sint_po.html

8  Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 2, pág. 907; https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19641121_orientalium-ecclesiarum_po.html

9  The Papal Encyclicals, vol. 1 (1740-1878), pág. 201.

10  Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 1, pág. 74.

11  Decrees of the Ecumenical Councils, vol. 2, pág. 907; https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19641121_orientalium-ecclesiarum_po.html

Do livro: A Verdade sobre o que Realmente Aconteceu à Igreja Católica depois do Vaticano II