A verdade de que Deus é eterno é um dogma básico do cristianismo.
Sofrónio de Jerusalém, Carta Sinodal, aprovada pelo Terceiro Concílio de Constantinopla: «… o único Deus, Pai, Filho, Espírito Santo – isto é, a natureza que é eterna e sem começo …» (Sofrónio de Jerusalém e a Heresia do Século XVII, Oxford Univ. Press, pág. 119.)
A eternidade de Deus não significa apenas que Ele é sem começo ou fim, mas também sem antes ou depois. A eternidade de Deus, que o homem obviamente não pode compreender totalmente, mas na qual deve crer, professar e defender de acordo com a sua capacidade, significa a posse inextinguível e perfeita que Deus tem da vida. A verdade que Deus é eterno está conectada ao dogma de que Deus é absolutamente imutável na Sua divindade, a qual foi ensinada por vários concílios ecuménicos.
Concílio de Éfeso, Terceira Carta de Cirilo de Alexandria a Nestório, 432: «Não afirmamos que a Sua carne foi transformada na natureza da Trindade ou que a inefável Palavra de Deus foi transformada na natureza da carne. Pois Ele (a Palavra) é inalterável e absolutamente imutável e permanece sempre o mesmo, como diz as Escrituras.»
No entanto, numa tentativa inútil de defender a falsa teologia conhecida como palamismo (que afirma que em Deus existe uma real distinção entre a essência divina e as «energias não-criadas»), diversos palestrantes «ortodoxos» orientais na verdade negam os dogmas da eternidade e da imutabilidade de Deus. Citaremos primeiro algumas passagens em que Gregório Palamas expressa a sua opinião de que a essência divina não deve ser identificada ou equiparada às «energias não-criadas». Logo após, mostraremos como os palestrantes «ortodoxos» orientais negam a imutabilidade de Deus.
Gregório Palamas, Os Cento e Cinquenta Capítulos, Cap. 118: «… nenhum dos atributos de Deus equipara-se à essência.»
Gregório Palamas, Os Cento e Cinquenta Capítulos, Cap. 142: «… a energia divina é distinta da essência divina, pois a energia produz outra coisa, não idêntica ao operador.»
Gregório Palamas, Os Cento e Cinquenta Capítulos, Cap. 143: «… a energia é, em várias formas, distinta da essência divina.»
Gregório Palamas, As Tríades: «… a outra é a contemplação, não da natureza divina…, mas da glória da Sua natureza… Portanto, à nossa natureza Ele deu a glória da Trindade, mas não da natureza divina; pois a natureza de Deus é uma coisa, a Sua glória, outra… embora essa glória seja diferente da natureza divina, ela não pode ser classificada entre as coisas sujeitas ao tempo…»
Jay Dyer, uma personalidade «ortodoxa» oriental (sujeito que refutámos em nosso vídeo chamado Jay Dyer Exposto & Palamismo Refutado), entrevistou recentemente o filósofo «ortodoxo» oriental Dr. David Bradshaw. Na entrevista, que incluiu dois indivíduos, Bradshaw foi questionado sobre um ponto que levantamos, a saber, que Gregório Palamas ensinou heresia quando afirmou que certas energias supostamente não-criadas podem ter um começo.
Gregório Palamas, As Tríades: «… de nossa parte sabemos que, enquanto todas as energias de Deus são não-criadas, não todas são sem um começo.»
O ensinamento de Palamas é obviamente uma heresia porque tudo o que começa a existir é criado.
Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Pt. III, Q. 2, A. 7: «Tudo o que começa temporalmente é criado.»
Bradshaw respondeu à objeção afirmando que «nem tudo que não foi criado é eterno» (Teologia Ortodoxa Explicada: Dr. David Bradshaw, Jay Dyer, Pe. Ananias, 20 de Março de 2020). Uau. Dyer concordou com a afirmação nitidamente herética e não-cristã. Antes de reproduzir o que foi dito, vamos citar algumas coisas sobre a eternidade e imutabilidade de Deus.
Salmos 90:2 – «Antes que os montes fossem formados, antes do nascimento da terra e do mundo, desde a eternidade e para sempre, tu és, ó Deus.»
Salmos 102:28 – «… tu porém és sempre o mesmo, e os teus anos não têm fim.»
Daniel 6:26 – «… porque ele é o Deus vivo que vive por todos os séculos…»
João 8:58 – «Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão fosse feito, eu sou.»
São João Crisóstomo, Padre Grego, Homilia 15 sobre o Evangelho de São João: «Agora, a expressão EU SOU, significa Ser sempre, e Ser sem começo, de Ser real e absolutamente.»
Papa São Leão o Grande, Tomo Dogmático a Flaviano, Concílio de Calcedónia, 451: «… na própria divindade pela qual o Unigênito é co-eterno e consubstancial ao Pai…» (Tomo Dogmático a Flaviano)
O Filho é «onipotente do Onipotente, nascido do Eterno, é coeterno, não posterior quanto ao tempo, não inferior quanto ao poder…» (Tomo Dogmático a Flaviano)
Poder-se-ia citar várias coisas no tocante à questão da eternidade de Deus. Deus é eterno. O Concílio de Niceia, no seu cânone dogmático, anatematizou aqueles que dizem que houve uma altura em que o Filho não era ou que Ele é sujeito a mudança ou alteração.
Concílio de Nicéia, Cânone Dogmático, 325: «Aqueles, porém, que dizem: “Houve um tempo em que [o Filho de Deus] não era” e: “Antes que nascesse não era”, e que foi feito do que não era, ou que dizem ser de outra substância ou essência [do Pai], ou que Deus é mutável ou alterável, a eles anatematiza a Igreja Católica e Apostólica.»
Essa verdade aplica-se também ao Pai e ao Espírito Santo. Dizer que a divindade não-criada de Deus ou qualquer aspecto d’Ele nalgum momento não existiu seria heresia e blasfémia, pois Deus é eterno e tudo o que nalgum momento não existiu é criatura. Da mesma forma, tudo o que está sujeito a mudanças é criado. Mas Deus não está sujeito a mudanças.
Tiago 1:17 – «… Pai das luzes, no qual não há mudança, nem sombra de vicissitude.»
Malaquias 3:6 – «Porque eu sou o Senhor, e não mudo…»
Hebreus 13:8 - «Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje: ele o será também por todos os séculos.»
Repare que o cânone dogmático de Nicéia conecta a eternidade de Deus com Sua imutabilidade. Não houve jamais um tempo em que o Filho não era; da mesma forma, Ele não está sujeito a mudança ou alteração. As duas são inseparáveis. Negar uma é negar a outra. Todas as três pessoas da Trindade são eternamente perfeitas e completas em divindade. A divindade não adquire coisas ou energias novas nem cresce ou muda. Como Santo Atanásio disse:
Santo Atanásio, Primeiro Discurso contra os Arianos, Cap. 6, n.º18, 365 d.C.: «… a fé dos cristãos reconhece a bem-aventurada Tríade como inalterável e perfeita e sempre como foi, nem acrescentando a Ela o que é mais, nem Lhe imputando qualquer perda…»
Santo Atanásio, Primeiro Discurso contra os Arianos, Cap. 10, n.º36, 365 d.C.: «… Pois a Escritura … significando …que a natureza de todas as coisas … criada é alterável e mutável, contudo, exceptuando-se destas o Filho … ensina que Ele muda tudo o mais, e Ele mesmo não é mudado.»
Se Deus em Sua divindade é absolutamente imutável, eterno e permanece o mesmo, como os cristãos devem professar, então Deus não adquire novos poderes ou «energias divinas» que Ele nem sempre teve. Isso é bem simples, pois uma aquisição posterior de «energias divinas» seria uma mudança ou uma expansão na divindade. Portanto, a ideia de que a divindade pode adquirir algo novo, ou que o modo de existência divino/não-criado se transforma num modo de existência divino/não-criado diferente nalgum momento posterior, é heresia.
São Basílio, De Spiritu Sancto, Cap. 6, 375 d.C.: «… como Baruc, quando ele deseja exibir a imutabilidade e imobilidade do modo Divino de existência, diz: “Tu permaneces eternamente; nós perecemos completamente.”» (Cap. 6, 375 d.C.)
A propósito, eu li a obra de São Basílio sobre o Espírito Santo e todas as suas mais de 300 cartas, conforme foram publicadas numa versão popular das suas cartas. Ele definitivamente não ensinou o palamismo. Talvez possamos expandir isso no futuro. Os cismáticos orientais interpretam mal e abusam dos pais da Igreja. É semelhante a como os protestantes abusam de São Paulo e dos pais da Igreja quando afirmam falsamente que ensinaram sola fide ou sola Scriptura.
Voltando à questão sobre a imutabilidade de Deus, a carta de Cirilo a João de Antioquia, aceite por Calcedónia, também afirmava:
Carta de Cirilo a João de Antioquia, aceite pelo Concílio de Calcedónia, 451: «… estão bastante loucos aqueles que supõem que “sombra de mudança” é concebível em conexão com a natureza divina da Palavra. Pois Ele permanece o que é sempre e não foi mudado, nem pode ser mudado, nem é capaz de mudar.»
A verdade cristã sobre a imutabilidade de Deus está muito bem estabelecida. Muitas outras coisas poderiam ser citadas, mas vamos mostrar o que os oradores «ortodoxos» orientais disseram em contradição com este dogma cristão:
Teologia Ortodoxa Explicada: Dr. David Bradshaw, Jay Dyer, Pe. Ananias, 20 de Março de 2020: «[Orador Ortodoxo Oriental] Uma que me preocupava, que me confundia e acho que a muita gente, é essa ideia de energias não-criadas que têm um começo. Isso significa que a não-criação e a eternidade são separáveis na realidade? E como isso não implica algum tipo de mutabilidade da parte de Deus? … Estou curioso sobre isso. Isso é uma apologética, um argumento frequentemente usado. [David Bradshaw]: Isso significa, penso eu, que nem tudo que não foi criado é eterno. Então, como mencionei, as energias do Espírito ou os dons do Espírito claramente não são eternas porque são dados a criaturas que não são eternas. Então o dom de profecia, por exemplo, não é eterno. Os seres humanos nem sempre existiram, e certamente aqueles em particular que receberam esse dom. O dom de, não sei, discernimento espiritual, o dom de cura. Essas são energias do Espírito. Se veres em 1 Coríntios 12, São Paulo usa a palavra ἐνεργήματα [1 Cor. 12:6, 10]. É por isso que os padres assim as chamam. Outro exemplo que eles usam, que Gregório Palamas usa, é o próprio acto de criação. Isso não é uma energia divina. É algo que Deus faz, que manifesta o Seu carácter, a Sua natureza. Mas claramente não é eterno porque lê-se em Gênesis, e Deus descansou no sétimo dia. Começou e acabou. Agora é claro que Deus mantém a criação em existência. Isso também é verdade. Mas isso não é o mesmo que o acto de criar descrito em Génesis. É por isso que nem tudo que não foi criado tem que ser eterno [Jay Dyer a concordar].
… [pergunta de um ortodoxo oriental]: Como isso não tem algum tipo de mutabilidade da parte de Deus. Eu acho que uma luta das pessoas é quando elas pensam no não-criado, elas pensam em algo que é eterno, porque ser criado, Tomás de Aquino diz isso, é ter um começo no tempo, eu acho… a crítica é que existe alguma mutabilidade ou mudança e viola a imutabilidade de Deus. [Bradshaw:] Bem, não porque Deus é eterno, mas Ele é perfeitamente capaz de agir no tempo [Dyer: exactamente], revelando-se diferentemente de maneiras diferentes em tempos diferentes. E é isso que as energias são. São actos divinos que manifestam Deus, dos quais podemos compartilhar – ou pelo menos muitos deles, nem todos: coisas como energias do Espírito ou mesmo a luz não-criada. Isso é apenas cristianismo básico, que o eterno entra no tempo.»
Bradshaw afirma que nem tudo que não foi criado é eterno. Dyer concorda com isso. Como deveria ser óbvio, isso é totalmente herético. Não é cristão, como vimos e provaremos ainda mais.
Ele tenta justificar essa clara heresia referindo-se aos dons do Espírito Santo em 1 Cor. 12. Ele pressupõe que esses dons, como existem no homem, são não-criados. Mas isso está errado. Os dons descritos em 1 Cor. 12 são as novas actualidades do homem que resultam da acção de Deus sobre ele. A acção do lado de Deus como transformador/motor é o poder divino e, portanto, é não-criado. Mas a acção recebida no homem, isto é, a graça ou dom espiritual que o homem possui, é um efeito criado. É uma nova realidade à qual Deus elevou o homem.
É por isso que 1 Cor. 12 refere-se aos dons superiores do Espírito.
1 Cor. 12:29-31 – «… Todos taumaturgos? Têm todos o dom de curar doenças? Falam diversas línguas? Têm todos o dom de as interpretar? Aspirai, pois, aos dons superiores.»
Não há maior ou menor na divindade. Mas há realidades superiores ou inferiores às quais o Espírito Santo pode elevar os homens mediante a Sua ação graciosa. Observe também que aqui não estamos a falar sobre a habitação do Espírito Santo que acompanha a justiça justificadora. Estamos a falar sobre os dons do Espírito mencionados em 1 Cor. 12, e geralmente sobre graça tal como existe numa alma humana.
Os dons do Espírito também são diversos e múltiplos, mas a divindade é uma só. Os dons do Espírito são os efeitos sobrenaturais que resultam da acção graciosa de Deus sobre o homem. Os dons do Espírito, assim como a graça santificante, não são uma substância criada separada colocada entre o homem e Deus, ao contrário do que Jay Dyer argumentou erroneamente durante anos sobre a visão católica da graça.
Jay Dyer, 26 de Março de 2019, sobre o que ele acha que a Igreja Católica ensina sobre a graça infundida: «… ela [a graça] é na verdade uma substância infundida criada.»
Isto é errado. «Com graça» ou «agraciado», melhor dizendo, é uma nova maneira que o homem existe. Assim, a teologia católica identifica a graça, tal como esta é no homem, como um acidente (isto é, algo que existe noutro), não como uma substância (isto é, algo que existe em si mesmo). Tal como recebida no homem, a graça é uma nova forma em que o homem existe. Pela graça, Deus eleva o homem a uma nova capacidade ou realidade que o homem nunca poderia alcançar pelos seus poderes naturais. Assim, não há suporte em 1 Coríntios 12 para a visão nova e herética de que certas coisas não-criadas têm um começo. Na verdade, a falsidade do argumento de Bradshaw fica clara se você pensar cuidadosamente sobre isso.
Por exemplo, ele apresenta o exemplo do dom de profecia. Bem, o que exactamente é isso? Pense nisso. O dom/graça de profecia (se considerarmos a profecia em relação a eventos futuros) envolve o intelecto do homem mudar de não conhecer coisas futuras para possuir conhecimento de coisas futuras, de acordo com a capacidade e compreensão do homem. Mas Deus sempre teve um conhecimento perfeito dessas coisas. Assim, o dom de profecia no homem é uma mudança na forma como o homem pensa, existe e sabe. Isso é claramente um efeito criado. Sim, é uma nova realidade à qual só Deus poderia elevá-lo. O homem nunca poderia atingir esse novo estado de conhecimento e compreensão por seu poder ou esforço natural. É por isso que é uma graça, mas é um efeito criado. Aquele que o dá é não-criado, mas a mudança operada no homem, a sua existência actual e modo de pensar com esse conhecimento, é um estado criado. Deve-se notar também que os dons carismáticos são graças reais e, portanto, transitórias ou temporárias. A graça santificante, porém, é habitual (uma disposição permanente).
Um ponto semelhante se aplica a todos os outros exemplos que Bradshaw daria. É também por isso que a justiça justificadora é repetidamente chamada nas Escrituras de uma nova criação.
2 Coríntios 5:17 – «Se algum, pois, está em Cristo, é uma nova criatura.»
Gálatas 6:15 – «De facto, nem a circuncisão nem incircuncisão valem nada, mas o ser uma nova criatura.»
Colossenses 3:10 – «… e vos revestistes do homem novo, daquele que se renova, para o conhecimento mais perfeito segundo a imagem daquele que o criou.»
Isso refuta totalmente a posição palamita sobre justificação.
Gregório Palamas, As Tríades: «Aqueles que o alcançam tornam-se assim não-criados, não originários e indescritíveis… Como poderia todo santo tornar-se não-criado pela graça, se esta graça é criada?»
Num vídeo futuro, talvez iremos expandir mais sobre isso e mostraremos como a posição católica, que é a verdadeira posição bíblica, se encaixa com o ensinamento de São Pedro de que a justificação envolve uma participação na natureza divina.
Portanto, os dons do Espírito Santo aos quais Bradshaw faz referência não apoiam em nada a heresia palamita: que coisas não-criadas podem começar a existir.
Bradshaw então traz à tona o acto da criação em si e como não é eterno, segundo ele. Já abordamos isso antes, mas ele está a confundir o Poder/Acto que é a causa da criação, ou seja, a essência divina, com os efeitos ad extra temporais.
O acto de criação, quando consideramos o agente, é Deus/a própria essência divina e, portanto, é eterno; mas não se segue, portanto, que os efeitos desse acto, a saber, as coisas criadas, sejam eternos. Eles não são. Deus cria as coisas não por instrumentos, mas por vontade.
Apocalipse 4:11 – «Tu és digno, ó Senhor, nosso Deus, de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e pela tua vontade é que elas receberam a existência e foram criadas.»
Ele desejou livremente desde toda a eternidade que certos efeitos ocorreriam no tempo e que no sétimo dia haveria uma cessação desses efeitos. Isso não significa que Deus nalgum momento decidiu criar, o que constituiria uma nova decisão ou movimento. Significa que os efeitos começaram no primeiro dia e cessaram no sétimo dia.
Como disse Santo Tomás: «Por conseguinte, nada proíbe que se diga que a acção de Deus existiu desde a eternidade, porém o efeito não existiu desde a eternidade, mas no momento disposto por Deus desde a eternidade.» (Suma Contra os Gentios, Livro II, Criação, Cap. 35)
Bradshaw então repete a sua posição herética: «… é por isso que nem tudo que não foi criado tem que ser eterno.» Como mostramos, isso é totalmente herético.
A propósito, o filósofo anglicano John Milbank também admite que Gregório Palamas («ortodoxo» oriental) acreditava que algumas energias «têm um começo», mas que ainda assim são «não-criadas» (o que é um absurdo herético): «[Palamas mantinha]: Embora não-criadas, algumas energias devem ser consideradas como “tendo um começo,” outras não, ou seja, aquelas direcionadas para a ordem criada (Tríades III, 2, 8).» (citado em Constantinos Athanasopoulos, Essência Divina e Energias Divinas: Reflexões Ecumênicas sobre a Presença de Deus, Cap. 7)
Milbank também disse que Palamas «parecia cortejar uma combinação bizarra de emanacionismo e panteísmo». (Ibid.)
A pessoa que fez a pergunta a Bradshaw então indaga-se como isso não contradiz a imutabilidade de Deus. Eles devem se preocupar com isso, pois a sua posição definitivamente contradiz a imutabilidade de Deus. Bradshaw responde afirmando: «Bem, não porque Deus é eterno, mas porque Ele é perfeitamente capaz de agir no tempo… Isso é cristianismo básico».
Na verdade, o que ele apresentou é uma negação do cristianismo básico. O cristianismo básico é que a divindade de Deus não muda. Cristianismo básico é que tudo o que uma vez não era é criado.
Então, eles negam o cristianismo básico e apresentam-no desonestamente como se fosse o cristianismo básico. Incrível. O cânone de Nicéia destrói o palamismo e a teologia «ortodoxa» oriental. Bradshaw também tenta confundir a questão afirmando que Deus age no tempo, como se isso fosse tudo o que eles estivessem a dizer. Sim, Deus age no tempo no sentido de que Ele sustenta, capacita, muda as coisas pelo poder da Sua imutável e eterna divindade. O Filho de Deus também entrou no tempo assumindo a natureza humana e tornando-se homem, sem nenhuma mudança na Sua divindade (deixe-me repetir isso, sem nenhuma mudança na Sua divindade).
Concílio de Calcedônia, 451: «… um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, unigênito, reconhecido em duas naturezas, sem mistura, sem mudança, sem divisão, sem separação, não sendo de modo algum anulada a diferença das naturezas por causa da sua união, mas, pelo contrário, salvaguardada a propriedade de cada uma das naturezas e concorrendo numa só pessoa numa só hipóstase.»
Mas eles não estão apenas a dizer que Deus age no tempo, o que pode ser entendido no verdadeiro sentido. Eles estão, antes, a dizer que a divindade que é necessariamente eterna tem um aspecto que não é eterno. Isso é heresia e, na verdade, um absurdo. É afirmar, em última análise, que a divindade não é eterna. É também negar a simplicidade porque se a divindade tem um aspecto que sempre existiu e outro que começou a existir, ela se divide em partes.
Considere também o que diz São João Damasceno (que não ensinou palamismo, ao contrário das falsas afirmações deles). São João Damasceno reafirma a verdade cristã de que tudo que muda é criado e que o Deus não-criado é totalmente imutável.
São João Damasceno, Sobre a Fé Ortodoxa, Livro 1, Cap. 3: «Todos os seres são ou criados ou não-criados. Os que são criados são sem dúvida mutáveis; pois aqueles cujo ser começou a partir de uma mudança estarão também, sem dúvida, submetidos à mudança, quer sejam tocados pela corrupção, quer alterados por uma escolha deliberada. Ao contrário, os que são não-criados, por uma razão corolária, são sem dúvida alguma imutáveis… E se ele é não-criado, o criador será também necessariamente imutável. Este algo, seria ele outra coisa senão Deus?»
Podemos ver novamente que tudo que muda é criado. Bem, o Pe. Dumitru Staniloae, que era um professor ortodoxo na Romênia e considerado por muitos adeptos da ortodoxia oriental como um dos maiores teólogos ortodoxos orientais do século XX, ensinou abertamente que Deus não é imutável nas «energias não-criadas». Ele disse que «o próprio Deus muda por nossa causa nas suas operações», e se referiu à «doutrina palamita das energias não-criadas que mudam».
Pe. Dumitru Staniloae, A Experiência de Deus, pág. 126: «O próprio Deus muda por nossa causa nas suas operações, permanecendo simples como fonte dessas operações e estando totalmente presente em cada uma delas.»
Como podemos ver, referindo-se às «energias não-criadas», que ele chama de operações, ele diz abertamente que Deus muda nelas, embora, segundo ele, Deus esteja totalmente presente nas coisas mudadas. Ele também diz, de forma ainda mais directa:
Pe. Dumitru Staniloae, A Experiência de Deus, pág. 150: «Esta síntese encontrou a sua formulação mais fecunda na doutrina palamita das energias não-criadas que mudam, embora venham da essência de Deus que permanece inalterada.»
Isso é uma heresia clara contra a fé cristã. Prova ainda mais o nosso ponto de vista que a «ortodoxia» oriental palamita nega o dogma de que Deus é imutável na Sua divindade.
Agora, os ortodoxos orientais palamitas acreditam que certas «energias não-criadas» começaram a existir. Portanto, tal energia nalgum momento não existia. Nalgum momento não era. Mas aquilo que não existe não pode trazer a si mesmo à existência. Pode apenas ser trazido à existência por alguma outra coisa que realmente existe.
Logo, a «energia não-criada» palamita, que nalgum momento não existia, mas começou a existir, deve ter sido influenciada por alguma outra coisa que sempre existiu. E nesse caso a Divindade seria definitivamente composta (composta de partes), e não simples. Haveria a parte que sempre existiu e a parte que começou a existir, e depois que ela começou a existir a «divindade» teria mais do que antes. Portanto, aderindo à heresia palamita, de que algumas energias não-criadas começaram a existir, eles negam a simplicidade de Deus, além da Sua imutabilidade e eternidade.
Santo Irineu de Lião, Contra as Heresias, II. 133, d.C.: «…[Deus] é simples, sem composição e sem diversidade de membros, inteiramente igual e semelhante a si mesmo, é todo intelecto, todo espírito, todo sentimento, todo percepção… como falam de Deus as pessoas piedosas e religiosas.»
Eles adoram uma criatura, pois adoram o que antes não existia. É por isso que a sua teologia é idólatra. Algo que foi trazido à existência por outro não é todo-poderoso; é inferior, está sujeito a outra coisa. Eles até admitem que as energias são transcendidas infinitamente pela essência.
Gregório Palamas, As Tríades: «A essência superessencial de Deus, portanto, não deve ser identificada com as energias, mesmo com aquelas sem começo; do que se segue que [isto é, a Essência] não é apenas transcendente a qualquer energia, mas que as transcende “num grau infinito e um número infinito de vezes”…»
Eles estão a adorar uma criatura, mas chamando-a de não-criada. De facto, observe que o cânone de Nicéia não apenas condena a posição de que o Filho uma vez não era, mas também a posição de que Ele foi feito de coisas que não eram.
Concílio de Nicéia. Canon Dogmático, 325: «Aqueles, porém, que dizem: “Houve um tempo em que [o Filho de Deus] não era” e: “Antes que nascesse não era”, ou que foi feito do que não era, ou que dizem ser de outra substância ou essência [do Pai], ou que Deus é mutável ou alterável, a eles anatematiza a Igreja Católica e Apostólica.»
Mas é isso que eles sustentam. Eles sustentam que as energias são Deus e, portanto, que a divindade é composta de certas energias que antes não eram. Isso equivale à posição anatematizada por Nicéia.
Agora, vamos colocar o último prego no caixão desta heresia. Mostramos que eles negam a imutabilidade, eternidade e simplicidade de Deus. Mas considere novamente a afirmação-chave de Bradshaw, com a qual Dyer concorda. Bradshaw diz que «nem tudo que não foi criado é eterno». Ele até repetiu a heresia quase com as mesmas palavras posteriormente. Bem, Santo Atanásio, repetindo a fé da Igreja sobre isso, contradiz directamente essa heresia.
Santo Atanásio, Primeiro Discurso Contra os Arianos, Cap. 4, n.º13, d.C.: «É, claro, então, que as Escrituras declaram a eternidade do Filho; é igualmente claro do que se segue que as frases arianas “Ele não era,” “antes” e “quando”, estão nas mesmas Escrituras predicadas de criaturas… Assim, parece que as frases “uma vez não era,” e “antes que viesse a ser,” e “quando,” e coisas semelhantes, pertencem a coisas originadas e criaturas, que vêm do nada, mas são estranhas à Palavra.»
Como podemos ver, as frases uma vez não era, antes, etc., são aplicáveis às criaturas, não a Deus (já que Ele é eterno). Bem, os palamitas «ortodoxos» orientais dizem que algumas das energias uma vez não eram. Isso é um facto. No entanto, eles sustentam que aquelas coisas que uma vez não existiam são realmente não-criadas e, portanto, Deus, o criador. É heresia.
Existem muitas citações semelhantes dos padres que poderíamos citar sobre este ponto básico do cristianismo. Aqui está outra de São João Crisóstomo.
São João Crisóstomo, Homília 3 sobre o Evangelho de João, século 4: «… uma natureza que veio a ser, pois o que veio a ser, seja o que for, veio a ser no tempo, ou na era antes que o tempo fosse, mas o Filho de Deus está acima não apenas dos tempos, mas de todas as eras anterior, pois Ele é o Criador e o Autor delas, como diz o Apóstolo, por que também fez as eras. Agora o Criador necessariamente é, antes da coisa feita… Pois tudo o que foi feito, tanto o Céu como a Terra, foi feito no tempo, e tem o seu começo no tempo, e nenhuma dessas coisas é sem começo… ser eterno e sem começo é deveras peculiar a Deus…»
Ele contrasta o que veio a ser (as coisas criadas) com o criador, que fez todas as coisas que vieram a ser. Assim, não há «coisa não-criada» que veio a ser, que uma vez não era. A seguinte citação de Santo Atanásio também se aplica à heresia palamita. Ao descrever uma visão falsa, ele diz:
Santo Atanásio, Quarto Discurso Contra os Arianos, n.º14: «Isso talvez ele tenha pegue emprestado dos estoicos, que sustentam que o seu Deus se contrai e se expande novamente como a criação, e depois descansa sem fim.»
Esta visão que Santo Atanásio rejeita é semelhante ao que os palamitas sustentam. Eles sustentam que para interagir com as coisas criadas a divindade se expande, adquirindo novas energias não-criadas; mas isso é falso.
Devemos também citar a profissão de fé de São Sofrónio de Jerusalém, que foi aceite por Constantinopla III. Esta declara:
Sofrónio de Jerusalém, Carta Sinodal, aprovada pelo Terceiro Concílio de Constantinopla: «… o único Deus, Pai, Filho, Espírito Santo – isto é, a natureza que é eterna e sem princípio – e trouxe da inexistência à existência e criou o que antes não era …» (Sofrónio de Jerusalém e a Heresia do Sétimo Século, Oxford Univ. Press, pág. 119.)
Como podemos ver, o que antes não era foi criado pelo Deus Eterno. Isso é cristianismo. Mas os palamitas sustentam que certas coisas que antes não existiam foram não-criadas. Isso não é cristão.
Aqui está outra passagem do mesmo documento que destrói o palamismo.
Sofrónio de Jerusalém, Carta Sinodal, aprovada pelo Tercerio Concílio de Constantinopla: «Nem, portanto, há nada criado ou servil na Trindade, nem introduzido, como se antes não existisse, mas posteriormente se acumulando. Nem o Filho é inferior ao Pai nem o Espírito ao Filho, mas é sempre a mesma Trindade, imutável e inalterável.» (Sofrónio de Jerusalém e a Heresia do Sétimo Século, Oxford Univ. Press, pág. 85.)
Nota: não há nada na Trindade que anteriormente não existisse ou que posteriormente se acumulasse a ela. Mas os palamitas sustentam que algumas das «energias não-criadas», que eles afirmam ser totalmente Deus (a Trindade), não existiam nalgum momento, mas eventualmente vieram de Deus. Eles mantêm a mesma coisa denunciada por Sofrónio.
Poderíamos citar muitas outras coisas e outros padres, mas deve ficar bem claro que afirmar que algo que começa a existir é não-criado é heresia. Além disso, há duas coisas a ter em mente ao considerar essas verdades dogmáticas da fé. Há 1) o que devemos acreditar de acordo com a nossa capacidade e 2) o que devemos professar. Se você se concentrar no que os cristãos professam, deve ficar claro que Dyer, Bradshaw e os outros palamitas não professam o cristianismo. Eles não professam consistentemente que a divindade é absolutamente imutável. Eles contradizem isso. Eles não professam que tudo que começa é uma criação. Eles rejeitam isso abertamente. Mas a Igreja Cristã ensina que tudo que começa é criado, pois Deus é eterno e Ele é o criador de tudo o mais. Assim, eles podem tentar filosofar por 5.000 horas. Eles podem tentar contornar essas simples profissões do dogma cristão.
Romanos 1:22 – «… pois, dizendo ser sábios, tornaram-se estultos.»
E é assim que os falsos mestres enganam as pessoas. Eles ocultam heresias sob montanhas de retórica. Misturam mentiras com uma multiplicidade de palavras. Eles inculcam falsas doutrinas enquanto pretende dar uma explicação mais profunda ou uma análise histórica, de modo que a simples regra de fé, à qual os cristãos estão vinculados, se perde no processo. Mas você não tem permissão para dizer o que quiser sobre esses assuntos. Você deve conformar e restringir a sua linguagem, ensinamento e profissão à regra de fé cristã.
Você não tem permissão para dizer que a divindade muda. Eles assim o fazem. Você não tem permissão para dizer que a divindade de qualquer forma ou sob qualquer aspecto tem um começo. Eles assim o fazem. Eles são hereges – ponto. Não seja tolo o suficiente para cair na falsa filosofia de tais falsos mestres. O palamismo é uma novidade herética. Não foi ensinado por nenhum padre santo e é contrário aos concílios. Abrace a fé católica tradicional, a única fé verdadeira de Jesus Cristo necessária para a salvação.
Traduzam tudo sobre os “ortodoxos” o mais rápido possível.