Baptismos Miraculosos

por Ir. Pedro Dimond, O.S.B.

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Não há necessidade alguma para Deus salvar alguém pelo baptismo de sangue (ou pelo “baptismo de desejo”), já que Ele pode manter qualquer alma sincera viva até que se baptize, como vimos no caso de Santo Albano e o Guarda convertido. São Martinho de Tours trouxe de volta à vida um catecúmeno que tinha morrido para que o pudesse baptizar.1 Santa Joana d'Arc trouxe de volta à vida um bebé morto para que o pudesse baptizar.2 Houve muitos milagres similares. Um exemplo notável é um que é dito ter ocorrido na vida do próprio São Pedro. Enquanto acorrentado a um pilar no cárcere de Mamertina em Roma, baptizou dois dos seus guardas, Processo e Martiniano, com água que brotou miraculosamente do solo à pouca distância das mãos de São Pedro. Estes guardas foram também encarcerados assim como São Pedro, e iam ser executados no dia seguinte por serem conversos. O seu desejo pelo Baptismo (baptismo de desejo) e seu martírio pela fé (baptismo de sangue) não iria ser suficiente. Precisavam de ser baptizados com “água e o Espírito Santo” (João 3:5). E Deus viu que realmente desejavam o Sacramento, e portanto administrou-o miraculosamente.

A história também regista que São Patrício, que ressuscitou de entre os mortos a mais de quarenta pessoas, assim o fez em vários casos especificamente para baptizá-las, algo totalmente desnecessário se alguém pudesse salvar-se sem ser baptizado. Tal como aponta um erudito:

“No total, São Patrício trouxe de volta à vida cerca de quarenta infiéis na Irlanda, um dos quais foi o rei Echu (…) Ao ressuscitá-lo de entre os mortos, São Patrício instruiu-o e baptizou-o, perguntando-lhe o que tinha visto no outro mundo. O rei Echu contou como na realidade tinha visto o trono preparado para ele no Céu por durante a sua vida ter estado aberto à graça de Deus Todo-Poderoso, mas não lhe foi permitido entrar precisamente porque não tinha ainda sido baptizado. Depois de ter recebido os sacramentos… morreu instantaneamente e seguiu para a sua recompensa.”3

O mesmo estudioso adiciona que:

“Está registado que muitos desses santos ressuscitaram adultos especifica e exclusivamente para administrar o Sacramento do Baptismo, inclusive São Pedro Claver, Santa Winifred [Venefrida] de Gales, São Julião de Le Mans, São Eleutério, e outros. Mas, ainda mais ressuscitaram pequenas crianças para o sacramento da salvação: São Gregório de Nazianzo, (…) Santo Hilário, (…) Santa Isabel, (…) Santa Coleta, (…) Santa Francisca Romana, (…) Santa Joana d'Arc, (…) São Felipe Neri, (…) São Francisco Xavier, (…) São Gildas, (…) São Gerardo Magela, (…) para nomear apenas alguns.”4

Um dos casos mais interessantes é a história de Agustina, a jovem escrava relatada na vida de São Pedro Claver, um missionário jesuíta da Colômbia do século XVII.

“Quando o Padre Claver chegou ao seu leito de morte, Agustina jazia fria ao tacto e o seu corpo já estava sendo preparado para o enterro. Ele orou junto à sua cama durante uma hora, quando de repente a mulher sentou-se, vomitou uma porção de sangue, e quando questionada por aqueles que estavam presentes, declarou: ‘Eu vim de uma viagem por uma longa estrada. Após ter percorrido uma grande parte, encontrei um homem branco de grande beleza que pôs-se diante de mim e disse: Pare! Não podes seguir adiante.’… Ao ouvir isto, o Padre Claver despediu os presentes da sala e preparou-a para ouvir a sua confissão, pensando que precisava de absolvição de algum pecado que se tenha esquecido. Mas no decorrer do ritual, São Pedro Claver foi inspirado em perceber que ela nunca tinha sido baptizada. Ele cortou a sua confissão e negou-se a dar-lhe a absolvição, pedindo, ao invés disso, água para que a pudesse baptizar. O amo de Agustina insistiu que era impossível que ela necessitasse de Baptismo uma vez que estava a seu serviço há vinte anos e nunca tinha falhado em ir à Missa, à Confissão, e à Comunhão durante todo esse tempo. Porém, o Padre Claver insistiu em baptizá-la, e logo a seguir Agustina morreu uma vez mais, alegremente e em paz, na presença de toda a família.”5

O Pe. Pierre de Smet, o grande “Apóstolo das Montanhas Rochosas,” que foi o extraordinário apóstolo dos índios americanos no século XIX, também foi testemunha — tal como os seus companheiros missionários jesuítas — de muitas pessoas que retornaram à vida para o Baptismo em circunstâncias miraculosas.

Pe. de Smet, 18 de Dezembro de 1839: “Tenho frequentemente assinalado que muitas crianças parecem esperar pelo Baptismo para poderem voar para o céu; pois morrem quase imediatamente depois de receber o Sacramento.”6

Pe. de Smet, 9 de Dezembro de 1845: “… mais de uma centena de crianças e onze pessoas idosas foram baptizadas. Muitos destes [os idosos], que foram levados sobre peles de búfalos, pareciam só esperar por esta graça antes de ir descansar no seio de Deus.”7

Acerca deste ponto, o leitor também quererá ver a secção sobre São Isaac Jogues e São Francisco Xavier mais adiante neste livro.

Na vida extraordinária do missionário irlandês São Columbano (543 a 615 d.C.), lemos uma história similar sobre como a providência de Deus leva todas as pessoas de boa vontade ao Baptismo.

“[Columbano disse]: ‘Meus filhos, hoje verão chegar nesta ilha um chefe picto ancião que manteve fielmente os preceitos da Lei Natural; ele vem para ser baptizado e morrer.’ Imediatamente, um barco foi visto a aproximar-se com um homem idoso e débil sentado na proa, que foi reconhecido como o chefe de uma das tribos vizinhas. Dois de seus companheiros trouxeram-no ao missionário, a cujas palavras escutou com atenção. O ancião pediu para ser baptizado e, imediatamente após, exalou o seu último suspiro, sendo enterrado no mesmo lugar.”8

O Padre Point, S.J. foi um jesuíta companheiro do Pe. de Smet nas missões aos índios no século XIX. Ele conta uma história muito interessante acerca da ressurreição milagrosa para o Baptismo de uma pessoa que tinha sido instruída na fé, mas que aparentemente morreu sem receber o Sacramento.

Padre Point, S.J., citado em A Vida do Padre de Smet, edição inglesa, pp. 165-166: “Certa manhã, ao sair da igreja, encontrei-me com uma mulher índia, que disse: ‘Tal pessoa não está bem.’ Ela [a pessoa que não estava bem] ainda não era catecúmena; respondi que iria vê-la. Uma hora mais tarde a mesma pessoa [que veio dizer-lhe que a outra pessoa não estava bem], que era a sua irmã, abeirou-se de mim e disse que ela estava morta. Corri em direcção à tenda com a esperança de ela estar enganada, e encontrei uma multidão de parentes à volta da cama, repetindo: ‘Está morta — há algum tempo que não respira.’ Para assegurar-me, inclinei-me sobre o corpo; não havia qualquer sinal de vida. Repreendi estas excelente pessoas por não me terem contado logo sobre a gravidade da situação, adicionando: ‘Que Deus me perdoe!’’ Então, com certa impaciência, disse: ‘Orai!’’ e todos ajoelharam-se e oraram devotamente.

“Inclinei-me novamente sobre o suposto cadáver e disse: ‘O Túnica Negra está aqui: desejas que ele te baptize?’ Ao proferir a palavra ‘baptismo,’ vi um ligeiro tremor no lábio inferior; depois, ambos os lábios moveram-se, garantindo-me que ela entendeu. Ela já tinha sido instruída; então eu baptizei-a logo e ela levantou-se de seu ataúde fazendo o sinal da cruz. Hoje em dia ela sai para caçar, e está totalmente persuadida de que morreu no momento que relato.”9

Este é outro exemplo de uma pessoa que já tinha sido instruída na fé, mas que teve de ser miraculosamente ressuscitada especificamente para o Sacramento do Baptismo; e a ressurreição miraculosa produziu-se no momento em que o sacerdote pronunciou a palavra “baptismo.”

Na vida de São Francisco de Sales, também encontramos um caso de uma criança miraculosamente ressuscitada de entre os mortos especificamente para o Sacramento do Baptismo.

“Um bebé, filho de uma mãe protestante, tinha morrido sem o Baptismo. São Francisco tinha ido falar com a mãe sobre doutrina católica, e orou para que a criança voltasse à vida pelo tempo suficiente de receber o Baptismo. Sua oração foi concedida, e toda a família tornou-se católica.”10

O próprio São Francisco de Sales, resumiu a verdade maravilhosamente simples sobre este tema quando discutia contra os hereges protestantes.

São Francisco de Sales (Doutor da Igreja), A Controvérsia Católica, c. 1602, pp. 156-157: “A forma em que se deduz um artigo de fé é esta: a Palavra de Deus é infalível; a Palavra de Deus declara que o baptismo é necessário para a salvação, portanto o Baptismo é necessário para a salvação.”11

Segue-se outro relato de uma criança recém-nascida que morreu sem o Sacramento do Baptismo e foi ressuscitada de entre os mortos pela intercessão de Santo Estevão.

“Em Uzale, uma mulher teve um filho bebé (…) Infelizmente, morreu antes de que tivessem tempo de o baptizar. A sua mãe estava repleta de tristeza, mais por ele estar privado da Vida Eterna do que o ter perdido. Cheia da confiança, ela agarrou o menino morto e levou-o publicamente à Igreja de Santo Estevão, o primeiro mártir. Ali, começou a rezar pelo filho que acabara de perder. O seu filho moveu-se, soltou um grito, e sua vida foi de repente restaurada. Ela levou-o imediatamente aos sacerdotes; e, depois de receber os Sacramentos do Baptismo e Confirmação, tornou a morrer.”12

Somente nos Actos dos Apóstolos, encontramos três intervenções miraculosas que envolvem o Baptismo: Cornélio o centurião, o eunuco de Candace, e Saulo de Tarso. E em cada caso não só é evidente a manifestação da Providência de Deus, mas também os indivíduos envolvidos são obrigados a serem baptizados com água, mesmo que seja clara a sua intenção de fazer a vontade de Deus.

O facto é que Deus manterá viva qualquer alma sincera até ao Baptismo; Ele é Todo-Poderoso e decretou que ninguém entra no Céu sem o Baptismo.

Papa Pio IX, Primeiro Concílio do Vaticano, ex cathedra: “Mas tudo o que Deus criou, Ele pela Sua providência guarda e governa, ‘estende-se poderosa desde uma extremidade à outra, e dispõe todas as coisas com suavidade’…”13

De facto, a primeira definição infalível que declara que os eleitos possuem a visão beatífica imediatamente após a morte foi do Papa Bento XII em Benedictus Deus. É interessante examinar o que declara infalivelmente acerca dos santos e mártires que foram para o Céu.

Papa Bento XII, Benedictus Deus, 1336, ex cathedra, sobre as almas dos justos que recebem a Visão Beatífica: “… e por esta constituição válida em perpetuidade, pela autoridade Apostólica definimos… as almas… dos santos Apóstolos, Mártires, Confessores, Virgens e dos outros fiéis defuntos que, depois de terem recebido o sagrado Baptismo de Cristo, nas quais nada havia o que purgar… e aquelas almas de crianças renascidas e baptizadas pelo mesmo Baptismo de Cristo, que foram baptizadas e que pouco depois morreram, antes de chegarem ao uso do livre arbítrio… estavam, estão, e estarão no céu…”14

Ao definir que os eleitos (inclusive os mártires), nos quais nada há o que purgar, estão no céu, o Papa Bento XII menciona três vezes que foram baptizados. Obviamente, segundo esta infalível definição dogmática, nenhum Apóstolo, Mártir, Confessor ou Virgem poderia receber a Visão Beatífica sem ter recebido o Baptismo.

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Notas finais:

1 Pe. Jean-Marc Rulleau, Baptism of Desire, Kansas City, MO: Angelus Press, 1999, pág. 36; Sulpicius Severus, Life of St. Martin, 7, 1-7.

2 Pe. Albert J. Herbert, Raised From The Dead, Rockford, IL: Tan Books, 1986, nota de rodapé adjacente à pág. 93.

3 Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 384.

4 Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 385.

5 Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 386.

6 Pe. E. Laveille, S.J., The Life of Fr. De Smet, Rockford, IL: Tan Books, 2000, pág. 93.

7 Pe. E. Laveille, S.J., The Life of Fr. De Smet, pág. 172.

8 Citado por Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 364; Malone está a citar de The Catechist, por Rev. Canon Howe, cf. 9ª ed., London: Burns, Oates, and Washbourne, 1922, vol. 1, pág. 63.

9 Pe. E. Laveille, S.J., The Life of Fr. De Smet, pp. 165-166, nota de rodapé 7.

10 Introduction to The Catholic Controversy by St. Francis De Sales, Tan Books, 1989, pág. lv.

11 São Francisco de Sales, The Catholic Controversy, pp. 156-157.

12 Citado por Michael Malone, The Only-Begotten, pág. 386; tirado de Rev. Canon Howe, The Catechist, cf. 9ª ed: Burns, Oates, and Washbourne, Décima Edição, 1922, vol. 2, cf. pp. 596-597.

13 Denzinger 1784.

14 Denzinger 530.

Do Livro: Fora da Igreja Católica Não Há Absolutamente Salvação